terça-feira, 10 de maio de 2011

O Veloz e o Furioso

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Sempre gostei de correr, mas participar de uma prova de 10 km parecia uma meta inatingível. Há uns 10 anos comecei praticar corrida nos parques da cidade com certa regularidade. E então, como todo corredor, passei a incentivar outras pessoas a correrem também.
Nesta época trabalhavam comigo dois jovens de 20 anos aproximadamente, sedentários convictos. Eram grandes amigos e grandes rivais; um não admitia a hipótese de perder para o outro nem no par-ou-ímpar. Depois de muita conversa, um desafio foi lançado. Uma corrida de 3 km, uma volta no Parque do Ingá. Ambos teriam duas semanas para preparação.
Os dois escondiam o jogo, um não deixava o outro saber do treino. Eu acompanhava tudo e logo percebi que o Gaucho perderia. O Salsicha era muito melhor. Foi ai que tive a ideia de colocar um pouco de emoção na aposta. O Gaucho correria de Fusca.
Para o plano dar certo, o Salsicha precisaria sair na frente. Sugeri, então, que ele disparasse e depois administrasse a vantagem. Ele foi advertido que o Gaucho guardaria toda sua energia para o final da prova. A largada ocorreu no cruzamento das avenidas JK e Laguna. O Salsicha disparou e de longe controlava a distância do adversário. Confessou que ficou feliz ao perder de vista o segundo colocado. É que o Gaucho havia deixado o Fusca próximo de onde fica atualmente a Cultura Inglesa.
O Salsicha administrava a vantagem, mas sem descuidar. Sabia que o adversário guardava suas energias para o final da prova. Enquanto isso o Gaucho esperava escondido próximo de onde fica o restaurante Cupim-Mania.
Quando Salsicha passou, o Gaucho veio em “recuperação”, descansado; Salsicha, exausto, não pode fazer muita coisa, chegaram praticamente juntos, com ligeira vantagem do Gaucho. O Salsicha parecia ter participado de uma maratona, demorou em se recompor. O Gaucho quase não se cansou, comentou-se que se fossem duas voltas ele chegaria com muita vantagem.
A prova rendeu comentários diários por quase um mês. Depois o Salsicha soube que o amigo(da onça) correra de Fusca. Isso rende comentários até hoje, sempre que nos encontramos.

NOTAS:
* Qualquer semelhança com fatos, pessoas ou acontecimentos não é mera coincidência.

** As marcas citadas, Cupim-Mania, Fusca e Cultura Inglesa não pagaram nada pelo Merchandising Editorial. Que pena!

*** O gaucho nasceu em Maringá-PR

**** Nem o Fusca, nem o Gaucho, eram velozes; mas o Salsicha ficou furioso.



segunda-feira, 14 de março de 2011

Moto-contínuo

Chico Buarque / Edu Lobo - 1981

“Um homem pode ir ao fundo do fundo do fundo se for por você
Um homem pode tapar os buracos do mundo se for por você
Pode inventar qualquer mundo, como um vagabundo se for por você
Basta sonhar com você
Juntar o suco dos sonhos e encher um açude se for por você
A fonte da juventude correndo nas bicas se for por você
Bocas passando saúde com beijos nas bocas se for por você
Homem também pode amar e abraçar e afagar seu ofício porque
Vai habitar o edifício que faz pra você
E no aconchego da pele na pele, da carne na carne, entender
Que homem foi feito direito, do jeito que é feito o prazer
Homem constrói sete usinas usando a energia que vem de você
Homem conduz a alegria que sai das turbinas de volta a você
E cria o moto-contínuo da noite pro dia se for por você
E quando um homem já está de partida, da curva da vida ele vê
Que o seu caminho não foi um caminho sozinho porque
Sabe que um homem vai fundo e vai fundo e vai fundo se for por você”



Procurando em dicionários e enciclopédias, verão que se trata de um sistema que poderia funcionar perpetuamente, gerando sua própria energia. Isso é hipotético, porque contraria algumas leis da física.
Há quem defenda a idéia de que pode haver alguma lei da física, ainda desconhecida, que permita sua criação. Além disso, argumentam, se há 500 anos alguém falasse de televisão, automóvel, viagem espacial e outros avanços tecnológicos, seria na melhor das hipóteses, ironizado.
A grande verdade é que muita gente quando estuda um pouquinho de física começa a ter idéia de criar um moto-contínuo. Mas um pequeno avanço nos estudos é suficiente para desistir. Por quê?
A resposta é simples, além de não existir uma lei conhecida na física que permita sua construção, há leis conhecidas que impedem sua construção.

Vamos imaginar um modelo de moto-contínuo então.
Um ventilador direciona o vento que produz num cata-vento.
O cata-vento gira pelo vento recebido do ventilador e faz girar um gerador elétrico.
O gerador elétrico gera energia elétrica para alimentar o ventilador.
Perfeito não?
O problema é que um ventilador com hélices gigantescas poderia mover um pequeno cata-vento, que estando ligado num gerador teria energia para alimentar um pequeno ventilador doméstico. O resto seria perda.

Dois exemplos simples de perda de energia:
Uma lâmpada tem a finalidade de iluminar. Mas ao aquecer, ela perde energia.
Uma geladeira seria mais eficiente se não gerasse calor na parte traseira.

“Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Lavoisier

Muitos já anunciaram a criação de um moto-contínuo e é conveniente lembrar que alguns avanços da ciência, devemos a eles; afinal ao longo dos séculos introduziram suas conclusões no conhecimento cientifico, descobriram coisas acidentalmente, etc.
Alguns até para ganhar notoriedade, tentaram enganar outros cientistas, usando baterias, motores auxiliares, ar comprimido, tudo devidamente camuflado, claro; mas foram desmascarados...(que feio!)

A música parece falar de algo perfeito, onde não há perdas.

“Homem constrói sete usinas usando a energia que vem de você
Homem conduz a alegria que sai das turbinas de volta a você
E cria o moto-contínuo da noite pro dia se for por você”

Mas e o tédio, a rotina, as mágoas? São coisas comuns num relacionamento a longo prazo. Não seriam perdas?
Creio que sim. Mas se ambos quiserem, é possível introduzir uma energia auxiliar, que neste caso, nem precisa ser camuflada, porque não tem nada de feio.

Conclusão: as leis da física não permitem que seja criado um moto-contínuo. Mas a genialidade de Chico Buarque e Edu Lobo permite.

Aqui um artigo sobre Moto-contínuo.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A Presidente e a Questão das Palavras


Sou ligado à questão das palavras. Às vezes me pego brincando com radicais, prefixos e sufixos. A combinação de latim e grego, com palavras africanas ou indígenas tem resultados algumas vezes bizarros, engraçados; algumas palavras até soam bem.

No início dos anos 90 tivemos um ministro que foi moralmente linchado, entre outros motivos, por causa de uma palavra que inventou: imexível! O plano Collor é imexível, disse o ministro.
Na época participei do coro dos que criticavam, nos bares, escolas e rodas de esquina. Mas já há algum tempo que aprendi tolerar o fato. Há vários motivos para que o ex-ministro Antônio Rogério Magri fosse linchado moralmente, mas não o imexível. É feio, mas tolero.
Se subitamente me perguntassem que nome eu daria a algo que não pode ser mexido, em 5 segundos responderia: imexível, sem dúvida. Neologismo puro.

Mal começou o mês em que se comemora o Dia da Mulher e uma coisa volta a me incomodar: a Presidenta. Não Dilma Rousseff, Cristina Kirchner ou Michelle Bachelet. O que me incomoda é a palavra.
Sei que a palavra Presidenta já consta nos dicionário e que estudiosos da língua aceitam, embora alguns sejam contra.
O surgimento da palavra certamente não se deu por analogia, senão teríamos sargenta, estudanta, motoristo e dentisto.
Também não encontro argumentos na etimologia, visto que, sem mais delongas, quem contribui é contribuinte, quem governa é governante e quem preside é presidente. Independe do gênero.
Sobra então a possibilidade da palavra ser implantada pelo próprio uso. Se depender de mim Dilma será tratada durante todo o seu mandato como Presidente, com todo respeito que lhe é devido.

Tem mais uma possibilidade, mas não é morfológica nem nada que seja ligado à lingüística. Trata- se do feminismo. Não um feminismo que defende igualdade de direitos e respeito às diferenças. Parece ser um feminismo revanchista em que os homens devem ser castigados por séculos de atrocidades físicas e morais cometidas contra as mulheres. A palavra Presidenta entra com o objetivo de enfatizar que quem está no poder agora é uma mulher.
Há poucos meses José Serra e Dilma aspiravam ao cargo de presidente da república. José Serra era aspirante, mas não creio que Dilma fosse aspiranta. Era?

Divergências políticas à parte, não sinto nenhum desconforto com uma mulher no comando. Demorou, mas enfim temos uma Presidente. Mas não quero lembrar no futuro apenas que um dia tivemos uma mulher Presidente. Quero lembrar que a melhor Presidente que tivemos foi uma mulher. Então...

Viva Dilma Rousseff; abaixo a presidenta, a palavra.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Bem Cuidado

─ Bem cuidado, chefia?
─ Ahn? Só vou ali...
─ Ah chefia, mas o senhor vai no sossego que eu cuido. E faço um pós-pago no preço de um pré-pago.
─ Como assim?
─ Com pagamento antecipado dá pra fazer um precinho melhor, mas pra pagar depois tem que ter um adicional. Sabe como é né... o risco do calote tem que embutir no preço. Mas logo vi que o senhor é idôneo.
─ Ah é? E quanto vai me cobrar no pós pago, 50 centavos?
─ Não né, chefia; aqui é dois reais, mas como é rapidinho deixo por um.
─ Dá até medo de perguntar, mas e se alguém deixar o carro aqui umas três horas?
─ Olha, aumenta um pouquinho o valor, mas não de maneira proporcional. Quanto mais tempo, menor o valor por hora. Dá pra fazer mensal também, faz um cadastro, mas é rapidinho.
─ Poxa!
─ Vou te dar uma dica. Outro dia o senhor estacione na rua de baixo. É mais fácil achar uma vaguinha, é mais barato e o Calango é “responsa”.
─ Calango?
─ É meu cunhado, mano dos bons. Eu mesmo só deixo meu fuca lá.
─ Não entendi. Por que você deixa o carro lá e não aqui? Outra coisa, você tem um fusca?
─ Aqui metro quadrado é mais valorizado. Eu administro o espaço que ocuparia aqui, e repasso uma parte ao Calango, pela vaga que ocupo lá. Eu tenho um fuca sim, comprei só pra não ficar a pé. Eu tinha outro carro, mas vendi pra construir no meu terreno. Agora to vendendo o fuca e vou financiar outro carro. Quer comprar meu fuca, chefia?
─ Não, obrigado... mas to curioso. Quanto você tira por mês aqui?
─ Olha chefia, eu acho que é aético esse negócio de ficar falando o quanto ganha. O senhor me diria o quanto ganha? Claro que não, né.
Mas dá pra se virar. Tudo depende do quanto à gente consegue agregar no serviço.
─ Como assim?
─ Se o senhor quiser uma limpeza no carro, uma encerada, eu tenho uma equipe. São terceirizados, mas o serviço é de primeira. Eu ganho em cima.
Também tenho mega-sena, talão do ESTAR. E tem gente que paga pra eu ficar mudando o carro de vaga, deixando o dia todo na sombra.
─ To impressionado. Mas deixa eu ir resolver meu problema.
─ Vai lá, sossegado.
......................................................................................

─ Ta aí, um real. Muito obrigado.
─ Ô Chefia, só uma coisa. Quer comprar meu fuca?
─ Não, obrigado.
─ E um terreno?
─ Olha, eu não quero comprar seu fusca, nem seu terreno. Mas se souber de uma boquinha de guardador de carro, dá um toque.
─ Demoro. To vendendo um ponto filé, ali na catedral.
─ !!!