segunda-feira, 14 de março de 2011

Moto-contínuo

Chico Buarque / Edu Lobo - 1981

“Um homem pode ir ao fundo do fundo do fundo se for por você
Um homem pode tapar os buracos do mundo se for por você
Pode inventar qualquer mundo, como um vagabundo se for por você
Basta sonhar com você
Juntar o suco dos sonhos e encher um açude se for por você
A fonte da juventude correndo nas bicas se for por você
Bocas passando saúde com beijos nas bocas se for por você
Homem também pode amar e abraçar e afagar seu ofício porque
Vai habitar o edifício que faz pra você
E no aconchego da pele na pele, da carne na carne, entender
Que homem foi feito direito, do jeito que é feito o prazer
Homem constrói sete usinas usando a energia que vem de você
Homem conduz a alegria que sai das turbinas de volta a você
E cria o moto-contínuo da noite pro dia se for por você
E quando um homem já está de partida, da curva da vida ele vê
Que o seu caminho não foi um caminho sozinho porque
Sabe que um homem vai fundo e vai fundo e vai fundo se for por você”



Procurando em dicionários e enciclopédias, verão que se trata de um sistema que poderia funcionar perpetuamente, gerando sua própria energia. Isso é hipotético, porque contraria algumas leis da física.
Há quem defenda a idéia de que pode haver alguma lei da física, ainda desconhecida, que permita sua criação. Além disso, argumentam, se há 500 anos alguém falasse de televisão, automóvel, viagem espacial e outros avanços tecnológicos, seria na melhor das hipóteses, ironizado.
A grande verdade é que muita gente quando estuda um pouquinho de física começa a ter idéia de criar um moto-contínuo. Mas um pequeno avanço nos estudos é suficiente para desistir. Por quê?
A resposta é simples, além de não existir uma lei conhecida na física que permita sua construção, há leis conhecidas que impedem sua construção.

Vamos imaginar um modelo de moto-contínuo então.
Um ventilador direciona o vento que produz num cata-vento.
O cata-vento gira pelo vento recebido do ventilador e faz girar um gerador elétrico.
O gerador elétrico gera energia elétrica para alimentar o ventilador.
Perfeito não?
O problema é que um ventilador com hélices gigantescas poderia mover um pequeno cata-vento, que estando ligado num gerador teria energia para alimentar um pequeno ventilador doméstico. O resto seria perda.

Dois exemplos simples de perda de energia:
Uma lâmpada tem a finalidade de iluminar. Mas ao aquecer, ela perde energia.
Uma geladeira seria mais eficiente se não gerasse calor na parte traseira.

“Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Lavoisier

Muitos já anunciaram a criação de um moto-contínuo e é conveniente lembrar que alguns avanços da ciência, devemos a eles; afinal ao longo dos séculos introduziram suas conclusões no conhecimento cientifico, descobriram coisas acidentalmente, etc.
Alguns até para ganhar notoriedade, tentaram enganar outros cientistas, usando baterias, motores auxiliares, ar comprimido, tudo devidamente camuflado, claro; mas foram desmascarados...(que feio!)

A música parece falar de algo perfeito, onde não há perdas.

“Homem constrói sete usinas usando a energia que vem de você
Homem conduz a alegria que sai das turbinas de volta a você
E cria o moto-contínuo da noite pro dia se for por você”

Mas e o tédio, a rotina, as mágoas? São coisas comuns num relacionamento a longo prazo. Não seriam perdas?
Creio que sim. Mas se ambos quiserem, é possível introduzir uma energia auxiliar, que neste caso, nem precisa ser camuflada, porque não tem nada de feio.

Conclusão: as leis da física não permitem que seja criado um moto-contínuo. Mas a genialidade de Chico Buarque e Edu Lobo permite.

Aqui um artigo sobre Moto-contínuo.

Um comentário:

  1. O que mais me chamou atenção foi "E todos os discípulos disseram o mesmo, como é fácil dizer que temos um compromisso, mas difícil perceber o tamanho desta responsabilidade, incrível que não

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