quarta-feira, 2 de março de 2011

A Presidente e a Questão das Palavras


Sou ligado à questão das palavras. Às vezes me pego brincando com radicais, prefixos e sufixos. A combinação de latim e grego, com palavras africanas ou indígenas tem resultados algumas vezes bizarros, engraçados; algumas palavras até soam bem.

No início dos anos 90 tivemos um ministro que foi moralmente linchado, entre outros motivos, por causa de uma palavra que inventou: imexível! O plano Collor é imexível, disse o ministro.
Na época participei do coro dos que criticavam, nos bares, escolas e rodas de esquina. Mas já há algum tempo que aprendi tolerar o fato. Há vários motivos para que o ex-ministro Antônio Rogério Magri fosse linchado moralmente, mas não o imexível. É feio, mas tolero.
Se subitamente me perguntassem que nome eu daria a algo que não pode ser mexido, em 5 segundos responderia: imexível, sem dúvida. Neologismo puro.

Mal começou o mês em que se comemora o Dia da Mulher e uma coisa volta a me incomodar: a Presidenta. Não Dilma Rousseff, Cristina Kirchner ou Michelle Bachelet. O que me incomoda é a palavra.
Sei que a palavra Presidenta já consta nos dicionário e que estudiosos da língua aceitam, embora alguns sejam contra.
O surgimento da palavra certamente não se deu por analogia, senão teríamos sargenta, estudanta, motoristo e dentisto.
Também não encontro argumentos na etimologia, visto que, sem mais delongas, quem contribui é contribuinte, quem governa é governante e quem preside é presidente. Independe do gênero.
Sobra então a possibilidade da palavra ser implantada pelo próprio uso. Se depender de mim Dilma será tratada durante todo o seu mandato como Presidente, com todo respeito que lhe é devido.

Tem mais uma possibilidade, mas não é morfológica nem nada que seja ligado à lingüística. Trata- se do feminismo. Não um feminismo que defende igualdade de direitos e respeito às diferenças. Parece ser um feminismo revanchista em que os homens devem ser castigados por séculos de atrocidades físicas e morais cometidas contra as mulheres. A palavra Presidenta entra com o objetivo de enfatizar que quem está no poder agora é uma mulher.
Há poucos meses José Serra e Dilma aspiravam ao cargo de presidente da república. José Serra era aspirante, mas não creio que Dilma fosse aspiranta. Era?

Divergências políticas à parte, não sinto nenhum desconforto com uma mulher no comando. Demorou, mas enfim temos uma Presidente. Mas não quero lembrar no futuro apenas que um dia tivemos uma mulher Presidente. Quero lembrar que a melhor Presidente que tivemos foi uma mulher. Então...

Viva Dilma Rousseff; abaixo a presidenta, a palavra.

Um comentário:

  1. Concordo contigo. Finalmente temos uma mulher comandando nosso país. Tudo bem que eu preferiria que fosse a Marina mas, isto já é uma outra história. Preferencias políticas a parte, prefiro ter uma presidente no poder. Presidenta não soa bem aos meus ouvidos. E se for um revanchismo, é desencessário - em minha opinião. Até porque não somos melhores nem piores, somos iguais.

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