terça-feira, 11 de agosto de 2009

Bem Cuidado

─ Bem cuidado, chefia?
─ Ahn? Só vou ali...
─ Ah chefia, mas o senhor vai no sossego que eu cuido. E faço um pós-pago no preço de um pré-pago.
─ Como assim?
─ Com pagamento antecipado dá pra fazer um precinho melhor, mas pra pagar depois tem que ter um adicional. Sabe como é né... o risco do calote tem que embutir no preço. Mas logo vi que o senhor é idôneo.
─ Ah é? E quanto vai me cobrar no pós pago, 50 centavos?
─ Não né, chefia; aqui é dois reais, mas como é rapidinho deixo por um.
─ Dá até medo de perguntar, mas e se alguém deixar o carro aqui umas três horas?
─ Olha, aumenta um pouquinho o valor, mas não de maneira proporcional. Quanto mais tempo, menor o valor por hora. Dá pra fazer mensal também, faz um cadastro, mas é rapidinho.
─ Poxa!
─ Vou te dar uma dica. Outro dia o senhor estacione na rua de baixo. É mais fácil achar uma vaguinha, é mais barato e o Calango é “responsa”.
─ Calango?
─ É meu cunhado, mano dos bons. Eu mesmo só deixo meu fuca lá.
─ Não entendi. Por que você deixa o carro lá e não aqui? Outra coisa, você tem um fusca?
─ Aqui metro quadrado é mais valorizado. Eu administro o espaço que ocuparia aqui, e repasso uma parte ao Calango, pela vaga que ocupo lá. Eu tenho um fuca sim, comprei só pra não ficar a pé. Eu tinha outro carro, mas vendi pra construir no meu terreno. Agora to vendendo o fuca e vou financiar outro carro. Quer comprar meu fuca, chefia?
─ Não, obrigado... mas to curioso. Quanto você tira por mês aqui?
─ Olha chefia, eu acho que é aético esse negócio de ficar falando o quanto ganha. O senhor me diria o quanto ganha? Claro que não, né.
Mas dá pra se virar. Tudo depende do quanto à gente consegue agregar no serviço.
─ Como assim?
─ Se o senhor quiser uma limpeza no carro, uma encerada, eu tenho uma equipe. São terceirizados, mas o serviço é de primeira. Eu ganho em cima.
Também tenho mega-sena, talão do ESTAR. E tem gente que paga pra eu ficar mudando o carro de vaga, deixando o dia todo na sombra.
─ To impressionado. Mas deixa eu ir resolver meu problema.
─ Vai lá, sossegado.
......................................................................................

─ Ta aí, um real. Muito obrigado.
─ Ô Chefia, só uma coisa. Quer comprar meu fuca?
─ Não, obrigado.
─ E um terreno?
─ Olha, eu não quero comprar seu fusca, nem seu terreno. Mas se souber de uma boquinha de guardador de carro, dá um toque.
─ Demoro. To vendendo um ponto filé, ali na catedral.
─ !!!

5 comentários:

  1. gostei muito....

    esses flanelas devem ganhar muito...

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  2. Perfeito.

    Enquanto permitirem que os extorsionários flanelinhas nos apliquem seu terrorismo...

    De acordo com Bertold Bretch, em seu poema:
    "Primeiro levaram os judeus, mas como eu não era judeu, nem liguei. Depois levaram os obreiros, mas como eu não era obreiro, também não me importei. Aí foi a vez dos estudantes, mas como não era estudante também não me interessou. Depois vieram a mim a aí, já era muito tarde."

    Pois é. Não estamos nos importando com nada, até que nos levem, ou seja, até que os extorsionários tomem conta com a permissão do estado, que mantemos pra que não permitam.

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  3. Eu tenho verdadeiro horror a flanelhinhas. Para mim são criminosos avalizados pela prefeitura de nossa cidade. É uma vergonha ninguém fazer nada para impedir sua ação. E tem mais, eles não trabalham porque um cidadão de bem, trabalhando diariamente, com mesmo nível de instrução ganharia em torno de R$ 800,00, 900,00. Eles com vagabundagem tem rendimento superior a R$ 1000,00. São vagabundos, em 99,99% dos casos, homens jovens, saudáveis. Por isto que está difícil encontrar mão de obra. Quando não são pessoas que não querem trabalhar, pois já estão conformados e acomodadas com bolsas de incentivo do governo, sobram os "flanebundos". E viva o Brasil!!

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  4. Nada muda, para preservar meu carro sou obrigado a dar dinehiro a esses vagabundos. A polícia não faz nada, nem adianta chamar.

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